quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Transferência





Ela chegou de ombros nus e estrelados
embaçados pela maresia.
Há de virar-me do avesso
de contornar minha ilusão
desse frio morto e brando
de paixão malsucedida.

De vagar sobre folhas
de papel que consomem letras de mim
ela me olha.
Diz-me:
Marca-me com a tua dor o meu peito,
meu coração aguenta o serviço.
Depois recebo e fujo.

Sorrio descompromissadamente
e delineio seu corpo:
aroma primaveril de ipês floridos
seios de campos luminosos
ventre de nuvens... muitas
de todas as formas...

Lá embaixo os sapatos cantam escada abaixo
uma canção para recomeçar
enquanto ela se despede
no convexo do espelho
da sala de estar.

Marcos Vidal

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