quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Um beijo-flor




Acordei desejando um beijo teu.
Mas como fazer se flor não sou?
Então reguei-me.
Pus-me a esperar pétalas nascerem
na ânsia de adornar meu rosto
em tom primaveril.
Desfiz dois cubos de açúcar como isca
e pus-me ao sol.
Tu chegavas mansa
entre asas, em segundos.

Apurei meu néctar e esperei
teu bico a inundar-me a boca de
sede e desejo.
Tu vinhas de olhos abertos
de vento leve
como em câmera lenta
entre mistérios e milagres...
E ao tocar-me
florei de ti
entre perfumes
e sombras.
Eu, rosa manhã de ti
e tu, beija-flor
do meu céu azul.

Marcos Vidal  

A menina da rua ao lado





Às onze horas ela passava:
saia plissada, meia três quartos,
broche azul e tudo combinava.
Aquele uniforme era nosso
Ela era a nossa garota de Ipanema.
O sol delirante da zona norte deixava
tudo ainda mais vertiginoso
Descia formosa, cabelos ao ombro
pernas torneadas e o sorriso
perverso de quem sabe
provocar corridas ao banheiro
para desanuviar o calor.

O tempo passou,
ela casou, filhos vieram
e quando a revi depois de anos
restava aquele sorriso provocador
de queimar o corpo quente de verão.

Transformou aquele sorriso
no propósito de sua vida
aquela alegria dos meninos
ainda pode ser vista nos olhos dela
em sua receita de alegria.

Desejo verossímil
do amor designado por Platão
hoje ela desfila na passarela da vida
e corremos pra ver a sua alegria
em frente ao portão.

Marcos Vidal