sexta-feira, 24 de abril de 2015

Incômodo


As notícias chegam ao vivo, ditam ritmo e nos desacostumam de tudo. Depois de um silêncio mais contundente no século passado, vozes entrelaçadas de acontecimentos têm sido mais asfixiantes, sem oxigênio, ideias adversas que se formam devido ao volume de coisas que se vão também por dentro. Aliás, mais por dentro. Um redemoinho de coisas que busca conexões com tudo que seja possível de comunicação. Embora o mundo esteja mais junto e estigmatizado, uniforme de moda e motes que se perdem pelo caminho.

O novo tem fôlego estreito, e por mais que eu esteja de acordo com boa da parte da modernidade, a estranheza começa exatamente pelo distanciamento de desejos que se formam em torno de nossas necessidades. Tudo que tem atrapalhado as estações, além das momentâneas preguiças mentais, os esporádicos prazeres vão se impondo de forma avassaladora.

A fugacidade das coisas, estejam elas em nós ou no mundo exterior, divide opiniões sempre. Subjetividade é sinônimo de que?

A subjetividade só atinge o grau máximo quando, salvo exceções, consegue refletir e definir o que se vai por dentro. Por isso os poetas escrevem, para diluir o espaço entre o mundo exterior e o mundo interior, tão subjetivo e desprezível, que precisa do montante de palavras arquivadas em nossa biblioteca interior, capaz de subjugar as impressões mais absurdas na contramão peremptórias do dia objetivado e lido pelo universo em que vivemos.
Marcos Vidal

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Quando rasguei tua foto ao meio







Quando rasguei tua foto ao meio
Rasguei também o mundo
Separei os seres
As coisas
As cores

Quando rasguei tua foto ao meio
Rasguei também a mim
Separei minh'alma
Dentro e fora
Fora e dentro

Quando rasguei tua foto ao meio
Me perdi
Tateei o nada
Sangrei a fala
E calei.

Porque quando rasguei tua foto ao meio
Eu já não era nada
Fingia que estava
Feliz outra vez

Falhei, resisti... me arranhei.

Marcos Vidal