sábado, 20 de outubro de 2012

Dia de caos



Sobre todas as coisas ergo-me
embora os ventos teimem em derrubar-me.
Amparado pelo desejo
ignoro a fantasia da construção,
assim como fazem os que não creem.
Desacertadamente entrecruzam-se os caminhos,
dando volume ao caos
e as coisas da alma.
Visivelmente deslumbro
arraigadamente, as consequências
e torno a sentir o que havia esquecido.

Marcos Vidal

sábado, 13 de outubro de 2012

Paixão





Prenhe de ideias abortou o instante.
Inundado de si, afogou-se no álcool.
A reserva traiçoeira confiou-lhe alegria.
Crente da eternidade justa, apaixonou-se,
cegueira de esperma em óvulos crescentes.

Distraído, sem saber ao certo se o contentamento  
seria fugaz, deixou sentir
o vento livre
a espreitar a flor à beira do lago,
cor de musgo.

Madrugada de zumbidos...
sonhos tranquilos de si,
deitam figos cor de sangue.

O doce fruto
arranha a paisagem sem lua
atrás do pensamento, como
relógios que andam pra trás.

O louco
travestido de Bobo
alegra salões pobres.
Dança pelado, ardido
em busca do grau zero do ser.

Diz que o nada é tudo.
Reunião do tempo e espaço
Por trás do véu da ignorância.

Lê de trás pra frente a beleza
das coisas. O quadrado é coisa
dos homens, somente a esfera
é natural, diz ele.

O ciclo é um eco sem fim.
Repetição a esfaquear o cosmo
de agonia: cosmogonia.

Guarda na algibeira uma canção.
Dorme ao relento pra se cobrir de orvalho.
Por de trás daquela serra
Cavalos alados entoam um mantra e
o real com ventos de asas.

A fome é dos dentes.
De coisas macias, 
aromáticas explodindo na boca.

De boca aberta
o céu se deita.
Nuvens fertilizam
o seu império.
De tudo um pouco vai nascendo...

Um lampião alumia a escuridão.
Sombras espocam no chão,
sinais dos tempos dos homens.
Na Terra, quem tem fome
embarca sentido em tudo que vê.

Quase tudo se come
Paixão por gosto, tons, cores...
Um mago de Açores
Voando na contramão
Antevê o fim dos tempos.

Só de amores se morre intento.

A certeza da felicidade
Fez-lhe noturno
Sentido dos ventos
Pensamento torpe.

A ignorância da paixão
Frustra a realidade dos fatos.
Ajoelhado, ele reza suas sanidades


Marcos Vidal