quarta-feira, 28 de agosto de 2013

dia de caos



Tanto faz onde as coisas estão quando tudo é já desordem. Casa revirada, mudança desencontrada e eu perdido entre tudo. Aperto os olhos e nada vejo no horizonte cinza. Pássaros engessados trituram sementes de mansidão sob a sombra do avião que passa, enquanto roubo todas as imagens com meus olhos de desespero. Diante de tudo isso ainda espero descontente a tua resposta em meio ao caos que anda minha vida e o país. Da minha janela que dá para o vizinho nada vejo; tudo cinza. Barulhos de bombeiros estabelecem a adrenalina da tarde sob o toc toc de saltos femininos. O desencontro das coisas em minha casa física e mental distribuem transtornos à vida real. 

Era pra ser um dia comum, mas meus olhos enxergam tudo ao contrário diante dos objetos que buscam sanidade. O presente decide-se por si próprio, sem a minha atuação desengonçada e desgovernada. Os carros insistem em trafegar pelo lado contrário  enquanto tento chegar ao trabalho. No metrô, mais um vagão sem ar-condicionado muda o ambiente, e uma onda de raiva estabelece-se entre os passageiros, que molhados de suor buscam mentalmente uma forma livre de não pensar no desconforto que a cidade do Rio anda a oferecer. Ao tentar descer na estação Cinelândia, uma velhinha escorrega na escada rolante e rola junto. Um tumulto acontece por conta do tombo da velhinha. Uma criança diz que a vovó está morta. Os sons de pássaros que a empresa do metrô coloca como música de fundo não consegue desacelerar os corações aflitos da ansiedade gerada pelo dia que nem começou e já traz aflições com a cena da velhinha.

Aturdido com tudo ao meu redor, ando disritimadamente, sem governança, perdido de olhos e corpo. Tantos porquês saltam em minha mente que não dou conta de tudo e dano a correr pela Av. Rio Branco como um louco, como se fugisse de mim e da cidade que vai, aos poucos me engolindo. O que me salva é o som do sax do artista de rua que se apresenta em frente à estação de metrô da Carioca. A música do saxofonista entra em mim e o todo da música me salva.  

As coisas tendem ser de acordo com o pensamento do dia. E, confesso, não estava muito bem no dia de hoje, vendo as coisas ao contrário, percebendo tudo diferente. Pois, quanto mais eu percebia mais o contrário das coisas se fazia presente, turbilhão de acontecimentos que ninguém vê... só os meus olhos de escritor vagabundo apreendendo, em meio ao caos, o sentido que se configuram as coisas. 

Marcos Vidal

terça-feira, 16 de julho de 2013

Amor às escuras



A tua cegueira silenciosa
entre dor faminta e
lucidez envenenada
transpassando a cor do lustre
que ilumina teus seios
sob os violinos de Tchaikovsky
ardendo saudoso enquanto
tua língua molha minha orelha
saliva derretendo música
entre lodo vacilante
vago e sujo
suntuoso frio de tua sombra
aquecendo de leve
as almofadas alimentadas
de teu vício maior
refugiada entre minhas pernas arcadas
em contentamento previamente melosas
da nascente suplicante do desejo
toda potência toda toda
enevoada a loucura da mão
rastejante e irredutível diante
da boca imunda de batom barato
nativo da região mais pobre de São Paulo
a permissão de teus olhos fechados
e satíricos esperando obcecados
o teu cabelo em minhas mãos
para arrastar-te entre sonhos de gozos vencidos
enquanto de súbito enxergas quem sou.       

Marcos Vidal

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Tenho sido



Tenho sido fraco
Vazio, profundo
Tenho andado solto
Cansado, imundo
Tenho fugido, desencontrado
Estrangulado o mundo.

Tenho enrolado sonhos
Atormentados, moribundo...
Tenho motivado,
Obcecado, descido sem fundo.

Tenho mentido, ocultado
mas só por um segundo.
Tenho bebido,
Ousado, sido fecundo.
Tenho sido programado
Esbanjado, vagabundo.

Mas tudo que tenho sido
Não me sustenta no mundo.

Marcos Vidal

domingo, 28 de abril de 2013

Sem Título



A eternidade do verde manchou o mar.
A liquidez da estrada fez do carro casa.
A solidão do azul, engomada de ferro, sustenta a eternidade.
A casa dos sonhos não tem cor, o barco de cores afundou antes.
A imagem lá fora sustenta palavras.
O tudo e o nada desandam o real.
O OLHO da foto serena etéreo.
O beijo da luz soluça volátil.
O tempo da foto eternizou o instante.      

Marcos Vidal 

quinta-feira, 28 de março de 2013

autointoxicação



Cortem-me as redes sociais
o cigarro, a tv, o rádio
e todos os contatos citadinos.
As antenas, os celulares
os computadores
os crápulas e covardes
e a falsa liberdade.
E se ainda sim eu resistir
Cortem-me os pulsos.

Marcos Vidal