Tanto
faz onde as coisas estão quando tudo é já desordem. Casa revirada, mudança
desencontrada e eu perdido entre tudo. Aperto os olhos e nada vejo no horizonte
cinza. Pássaros engessados trituram sementes de mansidão sob a sombra do avião
que passa, enquanto roubo todas as imagens com meus olhos de desespero. Diante
de tudo isso ainda espero descontente a tua resposta em meio ao caos que anda
minha vida e o país. Da minha janela que dá para o vizinho nada vejo; tudo
cinza. Barulhos de bombeiros estabelecem a adrenalina da tarde sob o toc toc de
saltos femininos. O desencontro das coisas em minha casa física e mental
distribuem transtornos à vida real.
Era
pra ser um dia comum, mas meus olhos enxergam tudo ao contrário diante dos
objetos que buscam sanidade. O presente decide-se por si próprio, sem a minha
atuação desengonçada e desgovernada. Os carros insistem em trafegar pelo lado
contrário enquanto tento chegar ao
trabalho. No metrô, mais um vagão sem ar-condicionado muda o ambiente, e uma onda
de raiva estabelece-se entre os passageiros, que molhados de suor buscam
mentalmente uma forma livre de não pensar no desconforto que a cidade do Rio
anda a oferecer. Ao tentar descer na estação Cinelândia, uma velhinha escorrega
na escada rolante e rola junto. Um tumulto acontece por conta do tombo da
velhinha. Uma criança diz que a vovó está morta. Os sons de pássaros que a
empresa do metrô coloca como música de fundo não consegue desacelerar os
corações aflitos da ansiedade gerada pelo dia que nem começou e já traz aflições
com a cena da velhinha.
Aturdido
com tudo ao meu redor, ando disritimadamente, sem governança, perdido de olhos e
corpo. Tantos porquês saltam em minha mente que não dou conta de tudo e dano a
correr pela Av. Rio Branco como um louco, como se fugisse de mim e da cidade
que vai, aos poucos me engolindo. O que me salva é o som do sax do artista de
rua que se apresenta em frente à estação de metrô da Carioca. A música do
saxofonista entra em mim e o todo da música me salva.
As
coisas tendem ser de acordo com o pensamento do dia. E, confesso, não estava
muito bem no dia de hoje, vendo as coisas ao contrário, percebendo tudo
diferente. Pois, quanto mais eu percebia mais o contrário das coisas se fazia
presente, turbilhão de acontecimentos que ninguém vê... só os meus olhos de escritor
vagabundo apreendendo, em meio ao caos, o sentido que se configuram as coisas.
Marcos
Vidal
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