sábado, 28 de maio de 2011

Palavras sem endereço

Falo e ninguém me ouve. Uma teia em meus olhos, tudo preto e branco. Deserto de sombras, cotidiano de maresia consciente onde cartas se perdem. Alguém por um segundo
pensou e enterrou o não dito, atravessadamente. Sensação do real, outra coisa inegavelmente viciante.
Sonho quando o mar canta e acordo sem rumo, estrada de barro enlameada, beleza seca.
Tenho mergulhado em mim abissalmente, entre coisas salgadas que nada dizem.
Escrevo palavras que nem chegam à boca e espalho sobre o branco o meu inteiro.
Sozinho enfrento a tua voz acre-doce a adivinhar minhas palavras. Aprendi me mostrando,
corpo de cores sozinho, futuro de ave a espreitar manhãs.
As nuvens ainda me extasiam, sensação do sempre amarrando coisas sobre um nada de mim. O som das palavras recria o inverso. Silêncio que se espalha. Às vezes andorinhas
sonham adormecidas, decifram o desconhecido e me inibem risos.
Quero roubar os teus olhos, tua discrição e encerrar com palavras pintando objetos e suas sombras.

Marcos Vidal

quinta-feira, 19 de maio de 2011




Do lugar onde me encontro
Teus seios montanhosos
Levam-me a deslizar-te.

Teu rosto altivo desemboca
Nos lábios que parecem
Dizer: quer colo?

Eu sigo minha viagem
A passear contigo pelo quarto
E a fazer-te minha amante.

Tuas unhas rasgam-me a pele
E ensanguentado lambuzo-te toda
De vida terra fosca.

Depois o cigarro...
A porta bate e só o teu
Perfume ainda ecoa na cama.


Marcos Vidal