domingo, 31 de outubro de 2010

Tem dias




Tem dias como hoje
que salto para fora de mim
andando por aí
sem saber dizer
quem sou
como se o rio corresse
ao contrário
e as garças
descansassem luz.

Há dias que o meu
peito ecoa brisa
e nessa lentidão
retorcendo o meu penar
fui levando
minha alma
antes mesmo
dela acordar.

Hora bebo luz
soerguendo cicatriz
noite alta, névoa branca
quase posso tocar
minhas lembranças
nessa força motriz.

Meu deslinde
à luz do dia
feito sob chuva fina
dessas que marcam a pele
pois, mesmo que me revele
não vou florir mais não.

Tem dias como hoje
que o cinza do dia escurece-me
e mesmo o meu lado mais azul
no branco da neve arrefece

Buscando servir a tormenta
agora de nada adianta
pois, cansado de tanta lembrança
na estrada velha e barrenta
a criança que chora e senta
deixa voar a esperança.


Marcos Vidal

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