quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Flor de Algodão





De repente o silencio se fez.
Procurei no céu nuvens e não te vi.
Cá embaixo um volume incongruente de transeuntes torna-se coisas; eles se deslocam à procura de algo, que também não sabem o quê.
No rosto deles reflexo do meu espanto.
E você diz: “Sim, existe um motivo”.
Eu, de olhos brancos, tonto de buscar nos algodoeiros o mesmo efeito da neve; trago ainda os pés congelados por insistir soprar a flor do algodão.
Mas bem ali, a beira da saudade o mar português, abismado da minha lucidez inebriante, colhias de ti, enquanto tu nadavas uma simples lágrima de suor. No meu sonho verbal tu nadavas. Acordei com a pele ainda salgada, trazia e traduzia a tatuagem vista ao contrário no espelho. De repente um forte gosto de nuvem de algodão tomou-me de pronto. Violinos firmes gotejavam em si a me segurar ilusoriamente, mas cheio de certeza me guardei.


Marcos Vidal

Um comentário:

  1. Resguardou-se na memória da pele
    que se vestia com grãos de sal,
    tal qual fez o mar ao te adormecer.
    Na pintura dos olhos envelhecidos
    os desejos de um moleque que sonhava com nuvens
    e que agora, por mero acaso do destino
    beija a flor de algodão
    como um sonhador que degusta sua primeira mitologia...
    Deixa tua alma falar da música que exala de tuas marcas
    e deixe que as nuvens virem poesias tatuadas em teu corpo já calejado.

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