quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ao Manoel de Barros





Corre no Manoel
uma raiz por dentro
que me galha.

E quando o vento
sopra ao contrário
voando com
os passarinhos
sem asas
eu me nuvem
me vermelho
coisa de instante.

Atrás da tarde
uma garça me destoa
ali onde a neblina
me empulha
e os beija-flores
descansam asas.

Perto do rio
um peixe descama.
Acendo um vaga-lume
pra preencher o verde
sem casa.

Atrás da chuva
o vento grita
um verbo infantil
desses que animam cores
em coice de cavalo

Quando eu me coiso
me diviniso
respiro Deus e
aspiro borboletas
entupidas de flores

Dentro do eco
mora um grilo
que roça árvores com os pés
em busca do som
da abelha
na lã de papel.

Quando me resto
encontro-me.
No corpo do besouro
a noite é mais escura

Sentado sobre o horizonte
Disse-me Manoel:
"De tarde arborizo pássaros"
eu breve de nuvem rasa
dos versos que o poeta
guarda
dirijo a amplidão.

Pousa em mim
um verso aquário
dos verbos
do meu poeta
Manoel de Barros.





Marcos Vidal






2 comentários:

  1. Confesso que conheço pouco de Manoel de Barros, mas essa declaração de amor me deu uma vontaaade de ler mais! Bjos
    PS: Adoro vir aqui fazer uma visitinha :)

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  2. Figuras reinventadas... Versos cheios de nuvens verossímeis...
    Coisas do Manoel, coisas do Vidal que tem também Barros.
    Parabéns!
    Beijos

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