sábado, 8 de outubro de 2011

Diálogo




De nada serve todo esse desgaste emocional. Você vai pra onde? Não sei. Pra frente, pro novo. Eu falo que você está se doando demais. Já disse pra olhar mais pra você. Mas olhar pra mim como? Se quando me vejo, logo me perco? Fui desaparecendo da vida dos outros, assim como a palavra escrita a lápis depois de um longo tempo. Ainda tenho medo de seguir sozinho. Mas se você não estiver pronto, o mundo não vai saber recebê-lo. E quem disse que quero ser recebido? Eu tardo sempre. Não quero chegar em primeiro. Prefiro o entrecaminho, sem diferenças, a expectativa de seguir. Eu não entendo por que você revoga essas coisas todas. Seja ao menos. Ser? Mas é tudo que tenho tentado esse tempo todo, é ser. Ser melhor, mais humano, menos babaca. Mas quem disse que eu consigo? Ando misturado disso tudo, sem saber ao certo o que farei com os próximos dias que são iguais aos de hoje. Sabe essa dor que dói por dentro? Pois é, ando sofrendo dela. Ela chega quase sempre quando me esquecem. O seu mal é que você enxerga coisas que ninguém enxerga, fica aí alimentando coisas só pra sofrer de verdade. Você diz isso porque não costuma ser esquecido. Eu desmarquei tudo pra ser lembrado, deixei-me livre para qualquer convite que me tirasse desse tédio. E sabe o quê aconteceu? Nada. Ninguém lembrou de mim. Você é muito dramático. A vida não é essa projeção de amizade sincera. Como não? E é de quê? De coisas falsas? Não exatamente como você acha que é. Na vida meu caro, temos que ser frios o bastante para que nada estilhace o nosso interior. Você sempre coloca a culpa nos outros, mas na verdade, ela é sua. Você que projeta essas merdas todas. Está bem! Deixa estar! O que se passa em mim você não saberia mesmo. A sensação que tenho, é de que falo somente para os astros e fantasmas que vivem comigo. Gosto dos mortos porque escutam e não falam. Mas ainda assim existe a porra do isolamento que eu mesmo provoco. Mas os mortos não costumam interferir. E essa loucura toda vai ficando mais forte em mim. A vida, meu caro, é dose única e letal. Não exija demais o que nem você mesmo sabe. Mas eu não exijo nada demais. Quem disse que não? Você se isola e quer ter atenção? Eu quero que me reparem, sem sol, sem nuvens... jardim de cores a despertar manhãs. Mas isso não vai adiantar de nada. Então devo me ir. Fugir para qualquer terra estranha e recomeçar. Mas recomeçar não é fácil. Você tem que esgotar todas as possibilidades, porque sem esvaziamento tudo vai parecer bem mais vazio e disforme. Agora vê se deita um pouco e ao acordar agradeça por ainda estar vivo, quem sabe assim as coisas estejam nos seus lugares?


Marcos Vidal

Um comentário:

  1. Este poema me inspirou a publicar uma postagem no blog Acedia: http://acediadepegasus.blogspot.com

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